7 minutos de leituraSonhos lúcidos: induza os seus sonhos de forma consciente
Bem sabemos a grande importância dos sonhos para o restabelecimento do bom funcionamento de nosso organismo, imagine dos sonhos lúdicos! Em verdade, os sonhos já foram matéria de estudos para muitos intelectuais, inclusive, para grandes autores psicanalíticos como Freud e Sándor Ferenczi.
É que aos sonhos credita-se a expressão imagética do que guardamos no mais íntimo de nosso ser. Não à toa, Freud considera, em sua célebre obra Interpretação dos sonhos, que, durante o estado onírico, sublimamos os nossos desejos mais recalcados e, muitas vezes, são indizíveis na realidade efetiva.
Podemos considerar ainda, sob a perspectiva psicanalítica, que no estágio REM, no qual ocorrem os nossos sonhos, buscamos, a partir da exploração do non sense, maneiras nada convencionais e protocolares de resolver aqueles problemas que na realidade consideramos insolúveis.
Percebendo, assim, a grande importância dos sonhos para a nossa existência, no post de hoje, vamos desvendar uma especificidade de sonhos extremamente promissores, os lúcidos.
Sonhos lúcidos: uma breve definição
Cerca de 20% da população sonha lucidamente todo mês. O interessante é que, por detrás dessa especificidade de sonho, encontramos ares de mistério e, às vezes, incompreensão.
Em tese, um sonho lúcido diz respeito àquela espécie de sonho no qual o indivíduo sente e sabe que está sonhando. Nesse sentido, ao se ter consciência do sonho que, até então, estabelecia-se no solo de nosso subconsciente, o indivíduo tende a romper com o estado de dormência, acordando assim que entende que percebeu que estava sonhando.
Nesse momento de transição do estado de dormência para o estado de vigília, é normal um susto iminente, dada a confusão mental acerca do que até então concerne ao mundo onírico e o que diz respeito propriamente à realidade.
Até aqui tudo bem. No entanto, você sabia que é possível permanecer e até mesmo induzir um sonho lúcido, mas com a possibilidade de permanecer alerta em toda a extensão do sonho? Em outras palavras, é totalmente possível se manter acordado e consciente enquanto sonha, um estado tido como inconsciente.
Aliás, segundo a cientista Susan Blackmore, esses sonhos são espécies de consciências mentais que estamos acostumados a ter no dia a dia, o que a leva a categorizá-los como um percepção mental análoga àquela que temos em outras parassonias e estados alcançados com o uso de substâncias químicas como LSD.
Sonhos lúcidos: um olhar filosófico e psicanalítico
Registros sobre a capacidade humana de construir sonhos de aspecto lúcido remontam à Grécia Antiga. Um dos grandes filósofos da antiguidade, Aristóteles, já constatava, no século IV a. C., que a nossa consciência é capaz de perceber que toda construção mental que nos acomete não passa de um sonho quando estamos no estado de dormência.
O estado de consciência descrito pelo filósofo acabou sendo absorvido como lugar-comum nos 400 templos gregos levantados em nome do deus da cura – Asclépio. Segundo a tradição grega, o deus greco-romano utilizava-se da estratégia de “incubação dos sonhos”, levando os enfermos a sonharem e pedir-lhe a cura de suas doenças, durante o estado de dormência.
Assim, os sonhos lúcidos já eram induzidos na Grécia clássica. No entanto, podemos dizer que esse assunto entrou em voga com o início dos estudos psicanalíticos promulgados por Freud e consolidados na obra Interpretação dos Sonhos.
Nesse material, encontramos alguns trechos nos quais o psicanalista evidencia situações em que os indivíduos possuem a capacidade de reconhecer a natureza mesma do sonho, exprimindo-a da seguinte forma: “isto é apenas um sonho”. No entanto, essa afirmação, segundo o autor, diz mais respeito a uma atitude protetiva do indivíduo em face da expressão de seus desejos recalcados mais íntimos.
Além disso, Freud explicita que é totalmente possível mudar o conteúdo onírico, mas nunca a ação intencional do agente, a qual permanece sempre alojada no inconsciente. É importante salientar, ainda, que, embora o estudo de causa, Freud nunca utilizou a classificação “sonhos lúcidos”.
Outro estudioso de peso no assunto foi Sándor Ferenczi, que apresentou um artigo de caracterização dos “‘sonhos orientáveis”, aos quais classificou aqueles pensamentos oníricos inconscientes e conscientes que, posta a sua má qualidade, eram modificados pelo indivíduo em busca da alteração de seu desfecho.
Os estudos de campo de Ferenczi corroboram à tese freudiana de que os nossos sonhos são formas mesmas de satisfação de nossos desejos.
Como ter sonhos lúcidos? 3 dicas precisas e eficientes!
Você pode treinar a sua capacidade de ter “sonhar acordado”. E aqui vamos desprender de três dicas bastante fáceis e efetivas.
Teste de realidade
Você já deve ter ouvido falar desta técnica, uma vez que ela aparece na clássica produção cinematográfica: A origem. Em linhas gerais, tal técnica consiste em observar e analisar várias vezes, ao decorrer do dia, o meio a sua volta e, quando estiver em estado de vigília, refletir se de fato está acordado ou apenas sonhando.
Essa técnica nos remete também ao método filosófico de Descartes, utilizado com fins de refutar a realidade objetiva, demonstrando a nossa dificuldade em afirmar sinestesicamente se estamos dormindo ou acordados, colocando a realidade à prova.
Após se questionar sobre a natureza dos eventos que presencia, é importante realizar um teste de realidade. Um teste de bastante eficácia é a leitura de um texto qualquer, uma vez que, em sonho, a ordem das palavras pode mudar após repetidas leituras, já que a disposição espaço-temporal do sonho se dá de forma ilógica.
Tornar o teste de realidade uma prática diária pode ser uma forma efetiva de testar a realidade em um estado onírico, induzindo, assim, o sonho lúcido com maior facilidade. Mas não se assuste, pois os seus estados mentais podem adquirir características nada peculiares.
Indução mnemônica
A indução mnemônica é a forma mais efetiva de se induzir um estado onírico de lucidez. Sendo assim, essa técnica consiste em uma repetição verbal e mental de afirmações de consciência, tal como: “eu sei que é um sonho”.
Repita esse tipo de afirmação até internalizá-la como uma verdade consolidada e efetiva. Ao mesmo tempo, imagine-se dentro de um sonho recente e consciente. É normal não lembrar os sonhos que temos, por isso, busque anotá-los assim que acordar.
Dessa forma, você pode fazer da indução mnemônica um exercício diário momentos antes do estado de sonolência. Ao combinar a técnica de mnemônica com a técnica a seguir, é bem provável que a indução seja alcançada com sucesso.
Técnica Wake Back To Bed
Antes de se deitar, é interessante colocar um alarme para te despertar após 5 hs de sono, visto que todas as fases do sono REM e NREM serão revisitadas, conforme o ciclo do sono esperado.
Ao acordar, mantenha-se desperte por cerca de 10 minutos, nos quais você pode praticar a indução mnemônica supracitada, fazendo da intenção consciente de estar acordado em sonho a última coisa a se passar pela sua cabeça antes de voltar a dormir. Assim, as chances de ter um sonho lúcido ao voltar para a cama serão grandes.
Nesse sentido, torna-se mais prática a indução ainda em estado de lucidez ao invés de tornar-se lúcido dentro do estado onírico. E esteja ciente de que nem tudo é maravilhoso dentro de um sonho lúcido, já que a sua mente pode criar percepções falsas e desconfortáveis e, claro, os detalhes tendem a ficar mais vívidos, dada consciência mental, o que pode acarretar parassonias como a temível paralisia do sono.
Agora que você já está bem informado a respeito dos sonhos lúcidos e conta com as melhores técnicas para induzi-los, conte-nos nos comentários se já teve algum sonho desse tipo e como foi a sua experiência.
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Até a próxima.